O Projeto Pequenos Guias do Bosque da Ciência executado pelo Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental (LAPSEA) do INPA, é um projeto de educação ambiental que envolve crianças e adolescentes a partir de 10 anos de idade das comunidades vizinhas ao Bosque da Ciência – Parque zoobotânico mantido pelo Instituto.
O Projeto surgiu em 1994 com a idéia de envolver meninos e meninas em atividades educativas centradas no princípio de formação integral e integradora, considerando os problemas ambientais de agressão à área verde e fauna do parque e a falta de compreensão da existência dessa área de preservação natural que contrastava com a realidade da população que necessitava área para morar. Até 2006 o projeto já abrigou aproximadamente 760 participantes.

O projeto Pequenos Guias tem um caráter educativo de longa duração e se desenvolve em 3 fases distintas mas complementares:

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Formação Educacional Crítica
Atuação e Interação no Bosque da Ciência

Participação Cidadã na Comunidade

Na fase de Formação Educacional Crítica, que dura de 8 a 10 meses, as crianças participam de encontros semanais com pesquisadores e educadores para discutirem questões sócio-culturais, ambientais e de eco-turismo. Os temas abrangem questões sociais que são mediados pelas discussões ecológicas e vice-versa, seguindo uma metodologia construtivista.

Na fase de Atuação e Interação no Bosque da Ciência, que dura 10 a 12 meses, os Pequenos Guias acompanham os visitantes pelas trilhas do Bosque fornecendo informações simples sobre os centros de visitação e os elementos da fauna e flora local. Nesse exercício de construção da cidadania e envolvimento com o meio ambiente natural, os Pequenos Guias se apropriam socialmente do espaço físico do Bosque e se tornam guardiãos da unidade de preservação.

A fase de Participação Cidadã na Comunidade, de duração contínua, se caracteriza pela transcendência do espaço do Bosque da Ciência para atingir também seu bairro e outras comunidades da cidade. Nesta fase os adolescentes participam ativamente de campanhas, eventos e cursos que tenham como tema questões socioambientais.

 

Coordenação

Maria Inês Gasparetto Higuchi, Psicóloga e Ph.D em Antropologia Social
Maria Solange Moreira de Farias, Pedagoga, Especialista em Desenvolvimento Sustentável
Insere-se ainda anualmente estagiários curriculares das Universidades Públicas e Privadas em áreas afins do conhecimento.


Detalhamento do Projeto:

O grande número de crianças em cada família moradora da vizinhança do Bosque da Ciência e a falta de oportunidades para atividades construtivas para os filhos motivou os pais e as crianças a solicitarem um espaço exclusivo para essa população. Surgiu então em 1994 a idéia de envolver crianças tendo o Bosque da Ciência como espaço físico e social para o desenvolvimento destas atividades.

A participação da criança no projeto adota os seguintes critérios: estar devidamente matriculado na escola cursando no mínimo a terceira série do ensino fundamental. No momento de matrícula a criança traz uma cópia do boletim escolar, para que a partir de sua inclusão no projeto, possa ter seu rendimento escolar acompanhado. O bom desempenho escolar é um dos critérios idealizados para permanência no projeto.

O processo educacional é centrado no princípio de formação integral e integradora, considerando os problemas ambientais a partir de uma realidade sócio-cultural vivida por aquelas crianças. Esse envolvimento teria o pano de fundo as questões ecológicas, porém a realidade social que está inevitavelmente implicada no fazer cotidiano não pode ser ignorada ou separada na realização de cada momento educativo. Desta forma não só a criança estaria envolvida mas também os pais e professores que acompanhariam a evolução da criança da inserção e durante sua permanência no projeto. Para isso os pais participam de reuniões esporádicas e os professores são entrevistados periodicamente.

Os critérios para permanência no projeto solicitam da família e da escola graus de responsabilidade diferenciados, mas atuantes. A iniciativa de intervenção educativa centrada na reciprocidade e cooperação tem mostrado resultados positivos na busca de soluções para os problemas sociais e ecológicos.
A fase de Formação Crítica se caracteriza pela formação e treinamento de aproximadamente 60 (sessenta) educandos, num programa de 80 horas de carga horária total. Nesta fase, com duração de 8 a 10 meses, os PG participam de atividades em grupos e discutem questões sociais, culturais e ecológicas. As aulas são desenvolvidas duas vezes por semana ministradas por pesquisadores do INPA, educadores e convidados. Face à complexidade dos problemas emergentes o eixo pedagógico se fundamenta no princípio sócio-construtivista integrando proposições da psicologia, da sociologia e da antropologia. Os temas abrangem questões sociais que são mediados pelas discussões ecológicas e vice-versa, seguindo uma metodologia construtivista.

Os educandos que forem bem sucedidos nos critérios adotados no projeto (compreensão, motivação, responsabilidade, participação, bom desempenho escolar e familiar, entre outros), são promovidos para a segunda fase. Nesta fase os PG recebem também uma formação elementar de turismo e história da Amazônia no contexto mundial, regional e local. As informações de turismo, normalmente proferidas por profissionais da área ou alunos de graduação do curso de turismo, são destinadas a preparar o PG para a segunda fase onde guiará os visitantes do Bosque da Ciência.

Na fase de atuação como guia aos visitantes do Bosque da Ciência (de 12 a 14 meses) os PG acompanham os visitantes pelas trilhas do Bosque e fornece informações simples sobre os centros de visitação e incluindo elementos da paisagem natural do local tentando despertar no visitante um maior interesse. Pelas limitações próprias da idade não é exigido dos PG um alto grau de conhecimento técnico sobre a fauna e flora ou de turismo uma vez que neste momento o que conta mais é justamente seu papel social de envolvimento e a tentativa de defender um ponto de vista através do repasse das informações recebidas e na socialização com os visitantes. Os Pequenos Guias atuam no bosque da Ciência de duas a três vezes por semana, em horários alternados ao da escola. Um grupo matutino e um grupo vespertino. Essa atividade é constantemente supervisionada pelos educadores.

Vale ressaltar ainda que a presença do PG não dispensa em nenhum momento o papel do guia turístico pois o PG está fazendo um exercício educativo de construção da cidadania e envolvimento com as questões ambientais próprias do meio em que ele está inserido. É justamente esse fato que conta pois o Bosque da Ciência é vizinho do seu lugar de moradia, o que faz com que esse espaço seja parte do seu dia-a-dia, e não algo distante e propriedade de uma instituição federal.

Outro ponto primordial é a integração do educando como pessoa na construção da auto estima, pois no momento que esse adolescente se coloca no papel de informador ele/a se apropria das questões apresentadas e re-elabora seu conhecimento e cidadania e consequentemente forma a base para uma nova forma de pensar e agir.

Na prática os PG se organizam em grupos de até 10 meninos e meninas que se alternando, conduzem os visitantes em um ‘tour’ pelo Bosque. Durante a atuação como guia no Bosque os PG vestem um uniforme que é usado nas atividades. O PG atua dois períodos por semana, em horário distinto do escolar, e eventualmente nos fins de semana. Diariamente os PG se apresentam ao educador no início e final do período para conversa informal e supervisão rápida. Além destes encontros diários, quinzenalmente o grupo se reúne às segundas-feiras, quando não há expediente no Bosque. Nestas reuniões são discutidos assuntos de interesse que emergiram durante as duas semanas e problemas operacionais. Após um período inicial, cada grupo diário é ´coordenado´ por um dos PG. O coordenador lidera o grupo naquele período e tenta mediar, na medida do possível, os impasses surgidos no momento do ´tour´. O líder ainda tenta decidir os conflitos e tomar outras atitudes próprias de liderança. Nesta tarefa, cujo objetivo é desenvolver habilidades de liderança e responsabilidade conta com o auxílio e supervisão dos educadores. Todas essas atividades são registradas no diário de campo pelos educadores.

Ao término da fase de atuação o educando inicia o terceiro momento que é sua Participação Cidadã na Comunidade maior. Nesta fase os Pequenos Guias já na adolescência (mais de 14 anos), passam a acompanhar e integrar movimentos e eventos de defesa e sensibilização ambiental, promovidos pelo INPA e outras instituições não só no seu bairro mas também visitando outros bairros. Essa participação se dá de forma concreta na visita às feiras e exposições auxiliando na orientação da temática em questão. Nesta fase ainda, o ex-Pequeno Guia participa de cursos teóricos e práticos sobre atividades técnicas e científicas produzidas no INPA que possam aumentar sua participação nas questões ambientais em temas que abrangem fauna, flora, patrimônio histórico-cultural e aplicação de tecnologia. A participação envolve também projetos de implantação da Agenda Ambiental nas Escolas de Ensino Fundamental. Uma participação mais recente é a parceria com a Fundação Abrinq no projeto Mudando a História, como facilitadores e mediadores de literatura com crianças em risco social. No ano de 2004 uma ex-Pequena Guia (Izabel Merici) representou o Brasil no México com financiamento da UNICEF-ABRINQ.
Outro projeto importante que os ex-pequenos Guias desenvolveram foi o da agenda 21 na escola. Aproximadamente 30 participantes desenvolveram o projeto HORTA NA ESCOLA, onde implementaram uma nova forma de concepção do plantar, cuidar e colher como parte da formação escolar na escola Municipal de Ensino Fundamental do bairro vizinho. Os ex-pequenos Guias foram também monitores da Exposição “Paisagens da Amazônia” do projeto Espaço Museológico Interativo (EMI) na Casa da Ciência – atividade do projeto financiado pelo CNPq/Rede Memória Naturalis – “INPA & ESCOLA: socializando conhecimentos” em 2004.

Divulgação

De modo geral, o Projeto obteve muita atenção da mídia impressa e televisiva (Folha de São Paulo, A Crítica, Amazonas em Tempo, Documentário TV Cultura, Globo Ecologia, Jornal Hoje/TV Globo, Futura, Documentário VARIG em vôos internacionais que chegam em Manaus, etc.). O sucesso do projeto alcançado na sociedade Manauense serviu como modelo de inspiração para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEDEMA) que implantou programas similares no Parque do Mindú e Jardim Botânico de Manaus, este último em parceria com a LAPSEA/INPA. Outros estados têm solicitado material e informações para replicarem a experiência em suas unidades de conservação. As experiências têm sido apresentadas em livros de Educação Ambiental, tais como “Muda o Mundo, Raimundo” WWF/MMA – Julho 1997; e pela WWF no Livro “Diagnóstico de Experiências em Educação Ambiental na Amazônia”, 2002. Mais tarde, em 2003, publicou-se o livro “Pequenos Guias do Bosque da Ciência: trajetória de uma experiência em educação ambiental com crianças na Amazônia, de autoria de Maria Inês Gasparetto Higuchi e Maria Solange Moreira de Farias.


Entidades que já financiaram o Projeto:

O projeto foi financiado por 3 anos, (1995,1996 e 1998) pela FUMTUR, da Prefeitura de Manaus.
Em 1999 e 2001 o projeto teve ainda auxílios financeiros e materiais esporádicos do Poder Judiciário Estadual, através da Vara Especializada do Meio Ambiente e de Questões Agrárias (VEMAQA) provenientes de ações cíveis públicas à guisa de reparação de danos ambientais.
De setembro de 2000 até 2004 Fundação International KODAK, por meio da KODAK da Amazônia, doou verbas anuais.
O Projeto conta ainda, desde agosto de 2001 com o apoio da Cultura Inglesa que tem contemplado 10 Pequenos Guias com Bolsas Integrais para o Curso de Inglês.

   
 
   
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