Educação Ambiental, cidadania e subjetividade: estratégias de envolvimento comunitário com moradores vizinhos da reserva Ducke
 
Início: 08/03/2004 Término: 09/07/2006
 
 
APRESENTAÇÃO

Desde 1996 o Grupo de Pesquisas em Educação Ambiental do INPA (GPEA) vem desenvolvendo ações educativas e de pesquisas nas Comunidades Vizinhas da Reserva Florestal Adolpho Ducke (RD), a principal e mais antiga base de pesquisas do INPA, que tem uma área de 10.000 hectares, coberta por uma típica floresta tropical úmida de terra firme da Amazônia, zona leste de Manaus.
A RD é considerada como banco de informações de valor paisagístico, cientifico e ambiental, encontra-se ameaçada pelas ocupações no seu entorno, gerando conflitos de toda ordem. Diante desta problemática algumas iniciativas foram tomadas para a efetiva preservação daquela área verde. Uma foi o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental. A outra foi a criação do Jardim Botânico de Manaus no cinturão externo no lado sul da reserva em parceria com Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Manaus.
Os projetos já desenvolvidos (Azevedo 1998, 2000, Abreu 1998, Freitas 1996, Lemos, 2002, Silva 1998, 2000) e em desenvolvimento nessas comunidades visam o envolvimento comunitário dos moradores nas questões socioambientais a partir da realidade e dos interesses dos grupos envolvidos(crianças, adolescentes, escolares, mulheres, adultos em geral). A preocupação é tentar compreender melhor a relação dos moradores com o meio ambiente, particularmente com a RD, a partir de seus modos de pensar e viver.
As ações foram iniciadas a partir da reflexão de que é cada vez mais urgente que a sociedade reveja as suas relações com o mundo natural e com o mundo social. Esse rever nos remete a um repensar as bases de sustentação do planeta Terra, desde as práticas mais elementares e aparentemente ingênuas do indivíduo de jogar papel no chão, passando pelas práticas de consumo e indo até a elaboração e execução de políticas públicas e ambientais, pautadas em novas éticas. No entanto, há de se considerar a complexidade desse tipo de atuação, sendo uma relação delicada, mas necessária.
Acredita-se que programas centrados na participação interativa e dialógica com a comunidade estimulem os moradores a proteger o espaço antes considerado ocioso (Higuchi, 1999). Isto posto, a Educação Ambiental (EA) que se defende é aquela que se inscreve nos princípios críticos da sustentabilidade, da complexidade e da interdisciplinaridade (Reigota, 1995, Leff 1999, Azevedo, 1998, 2000; Morin 2000, Sato 2002). Portanto, o conceito de EA incorpora a complexidade das inter-relações sistêmicas da problemática ambiental, assim como a análise dos significados, valores e potencialidades sócio-culturais e ambientais, visando a construção de novos modos de relacionamento dos homens entre si e com a natureza.
As ações educativas e de pesquisas propostas são as que visam contribuir com atividades que tenham significado para os grupos participantes das ações de maneira que os mesmos possam se apropriar dos novos conhecimentos e possam re-elaborar seus modos de pensar e agir frente ao seu ambiente local, assim como refletir acerca das questões ambientais mais amplas.
As ações seguem o trabalho já consolidado de integração de moradores no Bosque da Ciência, onde o campus do INPA passou a ser considerado parte da comunidade, de modo que os mesmos passaram a protegê-lo e cuidá-lo, como se fossem guardiões de seu próprio território. Higuchi e Farias (2002) confirmam essa experiência mostrando que o envolvimento comunitário é uma das soluções para a busca da cidadania e cuidado ambiental. Esse tipo de pesquisa-ação se mostra promissor e por meio dela podemos consolidar propostas de gestão ambiental tendo como premissa a melhoria das relações sociais num determinado lugar. O resultado seria a preservação ambiental como uma conseqüência dessa apropriação pela integração social.

 

OBJETIVO GERAL

• Integrar crianças, adolescentes e mulheres das comunidades vizinhas da Reserva Ducke nas atividades sócio-educativas como espaço de construção da justa cidadania e cuidado ambiental.

 

OBJETIVO ESPECÍFICOS

• Realizar encontros educativos semanais para consolidação dos grupos de educação ambiental.
• Elaborar juntamente com os grupos integrados diagnóstico dos problemas e potencialidades para se trabalhar a temática sócio-ambiental.
• Propor ações de intervenção educativa a partir das prioridades que os grupos considerarem relevante.
• Investigar e compreender a dinâmica das relações inter e intragrupais que indicam ações de cuidado com o meio ambiente no fazer e pensar dos grupos sociais.
• Avaliar as ações desenvolvidas no e com os grupos, identificando indicadores de mudanças nesse processo.

 

METAS:

• Elaboração de um diagnóstico de problemas e potencialidades socioambientais da comunidade onde residem.
• Construção de recursos didáticos adequados para a população sobre a Reserva Ducke.
• Criação de instrumentos de mobilização comunitária para envolvimento de outros moradores (por exemplo: informativo comunitário, publicação coletiva a ser construída pelos participantes durante o processo – receitas, artesanato, jogos, memorial, etc.).
• Diminuição do impacto antrópico na Reserva Ducke por meio da apropriação social do espaço físico do Jardim Botânico e do entorno que será construído processualmente.
• Consolidação dos grupos de educação ambiental no Jardim Botânico e Comunidades.
• Maior valorização do papel do pesquisador na sociedade pela socialização do conhecimento e responsabilidade social.
• Maior compromisso do INPA na formação de uma nova forma de agir e pensar socioambiental.
• Maior integração e interação entre Extensão e Pesquisa Científica.
• Maior comprometimento ambiental com as populações urbanas vizinhas a Unidades de Conservação.
• Maior sensibilização para as questões ambientais e necessidade de preservação dos recursos naturais.
• Redução das dificuldades de acesso aos conhecimentos sócio-culturais regionais.
• Estimular parceria interinstitucional e empresas na questão de responsabilidade social.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA-AÇÃO

A postura de inserção na Comunidade se baseia na relação dialógica, no respeito pelas diferenças, na busca conjunta das prioridades, na participação interativa e no fazer com e não para, e, principalmente, em desencadear um processo de formação e reflexão dos sujeitos envolvidos, acerca de seu cotidiano. Assim, a proposta educativa em questão visa desenvolver um processo de intervenção que contemple ações concretas que possibilitem aos participantes instrumentos que lhes permitam aprendizagens significativas no intuito de um outro olhar sobre o ambiente no qual estão inseridos. Para isso é necessário conhecer o universo de idéias e práticas das pessoas com as quais trabalhamos tentando contribuir para essa ação participativa visando um maior cuidado ambiental e social.
A pesquisa qualitativa e participativa será a abordagem principal do projeto, a qual tem como princípio o respeito dos saberes das pessoas com as quais estaremos trabalhando. Ao realizar as atividades é possível termos o acesso aos seus modos de pensar e suas práticas cotidianas (Thiollent ,1988; Spradley 1998). O trabalho popular ocorre num processo, onde os sujeitos se interrelacionam e se conquistam. É preciso ir conhecendo as necessidades e partilhando informações e saberes. A abordagem qualitativa possibilita ao pesquisador trabalhar com os significados que as pessoas atribuem a um determinado constructo biofísico ou experiências sociais. Nessa perspectiva o pesquisador/educador não inicia seu trabalho com hipóteses prévias, mas recebe essas informações a partir de sua interação e integração com os sujeitos da pesquisa e atividade educacional (Heidegger,2000; Croll & Parkin, 1992).
Por ser uma pesquisa de caráter qualitativo se fará uso de múltiplas técnicas e instrumentos para o entendimento do fenômeno como uso de fotografias, desenhos espontâneos, entrevistas e questionários, dinâmicas de grupo, excursões, cursos de capacitação em artesanato (grupo de mulheres). Os pesquisadores/educadores manterão registro das informações no diário de campo bem como nos instrumentos a serem criados no grupo. A compreensão das concepções que impulsionam as pessoas a determinadas práticas só será alcançada através da conduta participante do educador e pesquisador. A intervenção para uma mudança de comportamento não pode vir de fora, mas a partir de uma reflexão interna das pessoas envolvidas, fundamentada na prática diária. Entretanto, o processo de cuidado ambiental é marcado pelo tempo que não é necessariamente o tempo do pesquisador ou do educador, mas depende da dinâmica do próprio grupo. Pelo fato de serem pessoas com longa história de dificuldades sociais essas pessoas precisam de um tempo para construir um novo repertório conceptual e prático cujo repertório deve ser desvendado para esclarecer aos pesquisadores/educadores os caminhos a serem tomados na direção de uma nova ética socioambiental. Os encontros serão semanais com duração de duas a três horas diárias. O horário dos grupos e dias da semana serão decididos em comum acordo com os participantes. Os grupos serão ampliados pra que atinjam gradualmente mais membros, não só para os encontros como para atividades específicas de envolvimento no JB como toda a comunidade do entorno sul da RD.

SUB PROJETOS

1.1. Diagnóstico das Comunidades

Meta: Criar instrumentos de mobilização comunitária integrando grupo de moradores adultos para desenvolvimento de atividades sócio-educativas no próprio Jardim Botânico ou em algum outro espaço já utilizado pelos próprios moradores na vizinhança da Reserva Ducke. Para isso, o reconhecimento da área e das populações nas comunidades vizinhas são cruciais para definição de atividades futuras. Nesta fase inicial estão sendo analisados os aspectos físicos da área, como a localização espacial, comunicação com outras áreas, caracterização territorial e sua população e, principalmente, a dinâmica psicossocial existente entre os moradores e a Reserva Ducke.

Tipo de abastecimento da água.

O poço, mostrado na foto ao lado, é responsável pelo abastecimento de dezenas de casas. O morador responsável pelo mesmo, recebe de cada morador uma quantia que varia entre R$ 20,00 e R$ 25,00 por mês.

Caracterização de Impactos

Rede de águas pluviais com esgoto escoando diretamente na reserva, sem passar por nenhum tratamento.

Caracterização de Impactos

Ponto crítico de amplo impacto social e geofísico. É a construção da continuação da estrada Grande Circular que passa exatamente ao lado da reserva.

Vias de circulação pública da comunidade
Estado da rua imediatamente lateral ao Jardim Botânico

 

1. 2. Formação e empoderamento de moradores
Meta: Integrar jovens e adultos da comunidade vizinha, em cursos de arte e artesanato com resíduos naturais no Jardim Botânico.

Cursos Oferecidos no Jardim Botânico:
1- Aproveitamento de Madeira com Texturas Especiais
2 - Aproveitamento de Madeira e Produtos Naturais
3 - Reciclagem de Papel
4 - Reaproveitamento de Resíduos
5 - Entrelaçado de Folhas Secas
6 - Aproveitamento de Serragem na confecção de artefatos
7- Encadernação Artesanal

Curso de aproveitamento de madeira

Mulheres confeccinando bandejas

Participação da exposição Amazontech 2003

Participantes do curso de artesanato


Curso de Encadernação Artesanal

Jovens e mulheres no curso de ncadernação Artesanal

 

1.3. Adolescentes no processo de Educação Ambiental

Meta: Envolver adolescentes de 14 a 18 anos de idade em atividades semanais para atividades de mobilização grupal e comunitária, informação e educação ambiental.

Participam em média 25 meninas e meninas às 4as.feiras no Jardim Botânico, no horário de 9:00 às 11:00h. As atividades constam de técnicas grupais, visitas monitoradas, desenho poesia e debates.

Educação Ambiental no Jardim

Adolescentes participando de atividades de
grupo no Jardim Botânico.

1.4. Crianças no processo de Educação Ambiental
Meta: Sistematizar os indicadores de fortalecimento e coesão grupal, assim como os que indicam modificações no pensamento socioambiental.

São em média 35 participantes de 10 a 13 anos de idade. As atividades ocorrem todas as quintas-feiras de 9:00h às 11:00h, com técnicas e dinâmicas diversas, visando o desenvolvimento social, cognitivo, afetivo e comportamental dos educandos, trabalhando valores e atitudes para a solidariedade e cidadania.

Educação Ambiental no Jardim

Crianças participando de atividades grupais


 

1.5. Grupo de Amigos da Reserva Ducke

Logotipo do Grupo de Amigos da Reserva Ducke
Reuniões semanais no JB – Média de participantes 15 moradores.
Membros do GARD visitando o Teatro Amazonas

 

1.6. Reuniões Comunitárias

Reunião com moradores da Cidade de Deus no Jardim Botânico – em geral à noite. Média de participantes 120

 

1.7. Integração e Mobilização de Moradores do Assentamento Aliança com Deus

Vista parcial da Rua Margarida Africana – lado direito vista da RFAD

Reunião com moradores do Assentamento para proposição de se iniciar a construção do Centro de Educação Ambiental Comunitário. Março 2005

 

1.8. Construção do Centro de Educação Ambiental – CEDUCKE

Moradores participando do mutirão de limpeza do terreno para o CEDUCKE – Abril 2005
Participação de moradores na construção do Centro de Educação – Maio 2005
Assentando a base com cimento.
Estrutura de madeira parcialmente construída – Maio 2005.

Madeira proveniente de árvores caídas da reserva ZF2 e Ducke serradas pelos mateiros com ajuda dos vigilantes sob supervisão dos servidores e estagiários.

O transporte feito da ZF2 com caminhão do INPA/CPPF com notificação à DSER.

Participação de moradores na construção do telhado do Centro – Junho 2005

Supervisão e projeto do estagiário Rui Paulo Santos e Santos.

Centro de Educação Ambiental parcialmente coberto.

Telhas doadas pela RD Engenharia através de pedido feito por ofício ao respectivo dono Sr. Romero Reis- Junho 2005.

CEDucke – construção provisória pronta - Julho 2005

 

1.9. Cursos de Capacitação no Assentamento Aliança com Deus


• Olericultura Básica – ministrada pelo SENAR – AM em maio 2005 – 40h – 14 participantes

Aulas teóricas ministradas na antiga sede da igreja católica
Atividades práticas nos quintais dos moradores

 

• Curso Básico de Edificações: ministrado por Rui Paulo Santos e Santos – 11 a 16/05 - 30h – 23 participantes.

Aulas teóricas ocorridas no Centro de Educação Ambiental EDucke
Aulas Práticas
Encerramento do curso no sábado (16/6/05) à tarde.
Entrega de certificados com a presença de convidados (Empresário Romero Reis e José Alves da RD Engenharia – e equipe do LAPSEA e equipe de vigilantes).

 

Equipe Executora – LAPSEA/INPA
Maria Inês Gasparetto Higuchi (Coord.)
Genoveva Chagas de Azevedo
Maria Solange Moreira de Farias
Carlos Eduardo Makio

Pesquisadora colaboradora/ Fundação Bennett - RJ
Heloisa Helena Stopatto da Cruz Alves (03/02/04 até 28/02/06)

Bolsista PCI/CNPq
Sylvia Souza Forsberg (09/05/05 até 09/07/06)
Luiza da Conceição Sacramento (01/04/04 até 10/02/05)
Josephina Barata da Veiga (01/04/04 até 31/03/06)

Aluno Mestrado CCA/UFAM
Maria de Nazaré Lima (01/08/04 até 30/04/06)

Alunos IC/FAPEAM/CNPq
Kely Regina França de Souza/UFAM (01/04/ 04 até 01/04/05)
Josué Cláudio de Melo Dantas/UEA (01/04/04 até 01/05/05)
Luis Carlos Braga Celestino Júnior/UFAM (01/03/04 até 28/02/06)
Carole Cordeiro Baraúna/UFAM (01/04/04 até 01/05/05)
Katiane Silva/UFAM (01/08/04 até 28/02/06)
Artur Mamed Candido/UFAM (01/09/04 até 30/08/06)
Daniele Cunha/UFAM (01/05/05 até 09/07/06)
Engrácia Castro Ferreira/ UNINILTONLINS (01/07/05 até 09/07/06)
Tatiana Silva de Melo/UFAM (01/07/05 até 09/07/06)

Voluntários e Estágio Curricular
Luiz Carlos Toledano/ULBRA (01/03/04 até 28/02/06)
Rui Paulo Santos e Santos/CEFET (17/05/04 até 30/09/04)
Marluce Monteiro da Rocha/ CEFET (01/09/04 até 01/02/05)

   
 
   
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